Centrão à espera do terceiro turno

centrão
Congresso Nacional. Crédito: Ana Volpe/ Senado

Se a percepção de profissionais da política for confirmada, uma estreita margem de votos deve separar Lula e Bolsonaro no resultado da urna. O ex-presidente Lula segue favorito, mas o acirramento da disputa, registrado em levantamentos internos de ambas campanhas nos últimos dias, indica que qualquer fato político que se desdobre na reta final tem potencial para embaralhar ainda mais o cenário.

Serão dias sangrentos, na definição de um coordenador da campanha petista. O entorno lulista avalia que gastou mais tempo do que gostaria no segundo turno se explicando na agenda de costumes, e sem se preparar como deveria para enfrentar a guerrilha da desinformação digital. Ao mesmo tempo, atribui a redução da vantagem na corrida presidencial ao uso ostensivo e classificado como abusivo da máquina federal pelo presidente Jair Bolsonaro. Além do Auxílio Brasil turbinado e pago de forma antecipada, o governo colocou em campo, ao fim do primeiro turno, outras medidas para atrair um eleitorado identificado com Lula, como a permissão para usar o FGTS futuro no financiamento da casa própria.

Embora negada pelo entorno bolsonarista após a repercussão negativa, a notícia de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou à ideia de “quebrar o piso” do orçamento federal, desindexando aposentadoria e o valor do salário mínimo pela inflação, oferece ao PT a chance de retomar o debate na seara econômica. Não é um fato trivial dado que a campanha terá inserções na propaganda eleitoral, nos próximos dias, como direito de resposta reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Se Lula olhou mais para o passado do que o futuro ao eclipsar detalhes do que e como pretende fazer se voltar ao Planalto com um Congresso majoritariamente de centro-direita, ao menos dias mais tranquilos na estabilidade democrática ele pode garantir ao insistir nas implicações da reação alucinada do ex-deputado Roberto Jefferson, aliado insuspeito do bolsonarismo, contra ordem de prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.

A campanha do presidente tenta virar a página, mas usa o termo estrago para se referir ao episódio em meio ao esforço para atrair o voto de um eleitorado que já pertenceu ao então candidato em 2018, mas se afastou dele, mesmo rejeitando o PT, justamente por episódios de ruído institucional e violência. Atrás no primeiro turno, é Jair Bolsonaro quem teve de remar mais ao longo da campanha para tirar a vantagem de cerca de seis milhões de votos do adversário, ainda que o faça elevando a rejeição do ex-presidente.

O embarque definitivo do centrão na reta final teve como efeito prático a costura bem sucedida nos palanques estaduais dos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais. Para o bloco, o resultado da disputa sempre esteve no Sudeste. Mas, ironicamente, a pergunta que fica em uma corrida tão acirrada é se a influência e disposição desses políticos no Nordeste é forte o suficiente para elevar a abstenção a ponto de oferecer a Bolsonaro um estreitamento da vantagem de Lula na região.

Em conversas reservadas, esses políticos respondem a pergunta com um genérico comentário de que “tudo está saindo dentro do previsto”. Na novilíngua de Brasília, isso significa dizer que esses personagens seguirão dando as cartas no terceiro turno que se inicia imediatamente depois do próximo domingo (30). Com Lula ou Bolsonaro.

Fonte: JOTA Info
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-barbara-baiao/centrao-a-espera-do-terceiro-turno-25102022

Deixe uma resposta