Copom coloca no radar possibilidade de descumprimento de metas fiscais

copom
Sede do Banco Central, em Brasíla / Crédito: Raphael Ribeiro/BCB

A questão fiscal saiu do comunicado da decisão do Copom na semana passada, mas segue no radar do colegiado que decide a taxa de juros. A ata da reunião que cortou em 0,5 ponto a taxa Selic aponta que “a dinâmica fiscal seguia sendo relevante em seu cenário-base”. E parte do colegiado colocou no documento uma preocupação que começa a ficar mais evidente diante da dificuldade de o governo implementar medidas do lado da receita: a possibilidade de as metas fiscais anunciadas com o novo arcabouço fiscal não serem cumpridas.

“Em particular, alguns membros avaliaram que persiste alguma incerteza entre os agentes sobre a superação dos desafios fiscais, evidenciada nas expectativas de resultado primário que divergem das metas estabelecidas pelo governo, e que isso pode também estar se refletindo em expectativas de inflação desancoradas para prazos mais longo”, diz o texto.

O colegiado aponta que “a ancoragem das expectativas em torno das metas previstas no novo arcabouço fiscal, com a manutenção do compromisso fiscal externado, além de uma diminuição das incertezas acerca das medidas tributárias que fundamentam a execução de tal objetivo, contribuiria para um processo desinflacionário mais célere”.

Os comentários sobre política fiscal ficaram no capítulo que tratava de fatores que geraram uma convergência apenas parcial das projeções de inflação às metas estabelecidas, após a decisão do Conselho Monetário Nacional de manter os objetivos em 3%. Além da preocupação com a trajetória fiscal, alguns diretores apontaram para o cenário global de maior inflação e do risco de um BC mais leniente com os preços no futuro, que estaria sendo percebida pelos agentes.

Nesse momento, que claramente se refere às indicações de Gabriel Galípolo e Ailton Aquino para compor o colegiado e às futuras indicações do atual governo, o Copom se uniu para dar um recado: “Foi unânime o entendimento de que, independentemente da composição da diretoria colegiada ao longo do tempo, deve-se garantir a credibilidade e a reputação da Instituição”.

A ata também tentou conter os mais empolgados com o corte inicial de juros mais forte do que esperava, deixando como residual a possibilidade de uma aceleração do ritmo de reduções da taxa básica no curto prazo.

“O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva. Tal confiança viria apenas com uma alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação, tais como uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”, diz o documento.

É com isso que o governo conta, certamente. Até porque, como a própria ata sinaliza, a manutenção do ritmo atual de reduções dos juros vai apenas diminuir o grau de contracionismo da política monetária, mas, efetivamente, ela ainda vai segurar a economia por um bom tempo.

Ao arbitrar por um corte maior de juros na largada, Roberto Campos Neto comprou tempo político, diminuindo o fogo amigo que estava crescendo e com risco de sair do controle. A questão agora é por quanto tempo o armistício do governo vai durar.

Fonte: JOTA Info
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/analise/copom-coloca-no-radar-possibilidade-de-descumprimento-de-metas-fiscais-08082023

Deixe uma resposta