Departamento de HIV-Aids busca empréstimos internacionais

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Crédito: Marcelo Camargo/ABr

O Brasil está em busca de parceiros e empréstimos internacionais para financiar projetos de saúde no país. Diretor do Departamento de HIV-Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DATI) do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, afirmou ter iniciado a prospecção para ações ligadas principalmente à prevenção e diagnóstico.

A iniciativa tem o aval da ministra da Saúde, Nísia Trindade e, de acordo com Barreira, não ficará restrita ao seu departamento. “Os recursos irão para todo o ministério”.

O movimento, diz Barreira, não está restrito ao DATI. “Outras secretarias também buscam a mesma estratégia. Todo gestor sabe que precisa de dinheiro”.

No cargo desde o início deste mês, Barreira começou os entendimentos, de maneira informal , em fevereiro e agora o ritmo das negociações deve se intensificar. Entre parceiros candidatos, estão fundações, Banco Mundial e BID.

O fato de o Brasil ser classificado como um país em desenvolvimento restringe o acesso a linhas de financiamento voltadas para nações pobres. “Mas há várias agências que não têm limitação”, conta o diretor. Semana passada, Barreira teve conversas com organismos das Nações Unidas com escritório no país.

Uma das estratégias avaliadas é fazer parcerias que contem também com a participação da Fiocruz.

Nesta entrevista concedida ao JOTA, Draurio Barreira explica como os recursos seriam usados e as prioridades para sua gestão. Há interesse, por exemplo, em ampliar o uso das profilaxias pré e pós exposição ao HIV, adotar novos esquemas terapêuticos para tuberculose, melhorar o acesso ao diagnóstico, com maior oferta de testes rápidos.

Há ainda a meta de se eliminar a transmissão vertical de HIV, de sífilis, de Doença de Chagas e hepatites. A seguir, os principais trechos:

Por que retomar os empréstimos?

Acompanhei as ações ligadas ao combate ao HIV-Aids por muitos anos. Já tivemos tempos áureos, quando o país era considerado referência mundial. E isso coincidiu justamente com o período em que havia empréstimos do Banco Mundial. Claro, tivemos vários gestores que souberam aplicar recursos com ousadia e competência. Mas o fato é que já há algum tempo, o país mudou de patamar.

No período de excelência, o Brasil era convidado a participar de muitos eventos internacionais. Seja em HIV-Aids, seja em tuberculose. Mas as coisas mudaram. O país foi para o fim da fila. E outros países assumiram a liderança.

Hoje não há recursos?

Para tratamento de pessoas com HIV-Aids, as verbas estão garantidas. Mas há muito o que se fazer para diagnóstico e para prevenção. Ampliar a oferta de testes rápidos, trazer terapias mais eficientes e com menos efeitos colaterais. Podemos retomar o protagonismo internacional.

Há várias inovações tecnológicas que o Brasil pode colocar em prática. Se está comprovado cientificamente, se há ganhos no tratamento, estamos dispostos a usar. E isso interessa os parceiros também. Porque se dá certo no Brasil, o tratamento dá certo em países com menor extensão territorial, com população menor. O Brasil é estratégico.

Onde o país precisa avançar?

Não há dúvidas de que a profilaxia pré exposição ao HIV (PrEP) é efetiva. Ela já ultrapassou o período de projeto. Hoje é política pública. Mas a informação necessária, principalmente dirigida à população para quem a profilaxia está mais indicada, não circula da forma adequada. E, apesar de tanto conhecimento acumulado, há ainda profissionais de saúde que resistem a indicar a PrEP.

Outro exemplo é o da tuberculose. Pessoas que tiveram contato com pacientes têm a indicação de fazer um tratamento, como prevenção. São seis meses de medicamento, que deve ser tomado todos os dias. É muito difícil convencer uma mãe, por exemplo, a dar esse remédio para um filho.

A pergunta que as mães fazem é: por que dar esse remédio se a criança não está nem doente? O medicamento é traz efeitos colaterais, principalmente quando usado por seis meses. Somente quem adere de fato a esse tratamento são pessoas com HIV, que sabem que o risco de morrer de tuberculose é grande.

Mas há alternativas. Combinações de drogas. Um dos esquemas, o 3HP é dado durante três meses, em doses semanais. Ao todo, são 12 doses. Há outro, que é mensal, o 1HP. O uso é diário. Esses tratamentos no início custavam mais caro. Mas, conforme mais pessoas passaram a adotá-lo, o preço foi reduzido. Por que não incorporar de fato uma estratégia como essa, mais efetiva na prevenção?

Quanto custam esses tratamentos?

O 3HP é mais popular, por causa do preço: US$ 15 O 1HP custa US$ 20. No início, eles custavam US$ 45 e US$ 60, respectivamente.

Por que a PrEP não se expandiu?

Estudos feitos pela Universidade Federal da Bahia e pela Fiocruz, deixam claro a eficácia da estratégia para prevenção. Hoje no Brasil a estratégia já pode ser usada por todos. Não está restrita a grupos específicos. Ela é mais indicada para pessoas que têm uma vida sexual muito ativa, como profissionais do sexo. O problema é que quando a PrEP passou de um projeto para um programa de governo, não houve uma comunicação efetiva.

No governo anterior, havia uma resistência, uma percepção errada de que ela estimularia pessoas a terem uma vida sexual muito ativa. O que não é verdade. A estratégia protege essa população. A PrEP não colou como deveria colar.

Qual será a prioridade do seu departamento: HIV-Aids, Hepatites, tuberculose ou ISTs?

Nossa prioridade é garantir diagnóstico e prevenção para todas essas doenças, além de tratamento. Todas as formas de prevenção devem estar disponíveis. Camisinha interna, camisinha externa PrEP, PEP (terapia pós-exposição), anéis vaginais.

Tudo que tiver evidência científica, que previne as doenças, o departamento quer ofertar. Nem todas essas estratégias estão presentes agora. Nosso protagonismo será esse. Se funciona, forneçam assistência e implantamos em escala. Se está demonstrado que funciona, topamos.

Não quero ser mal interpretado. Dou prioridade ao tratamento, mas estou considerando que o tratamento já está disponível. Isso não tem retrocesso. Quem está infectado, tem de tratar e receber tratamento. Porque o tratamento é um direito. E também porque se você está tratado e seus níveis de HIV são indetectáveis, você não transmite a doença. Tratamento é também uma forma de prevenção. Mas na prevenção e no diagnóstico vamos avançar muito.

Como convencer a população a se testar e fazer prevenção?

Historicamente, a resposta nacional ao HIV-Aids não foi governamental. Foi uma resposta de parceria. E ela vai voltar a ser. Precisamos atuar com os fóruns, as redes, as agências, as Ongs. Se vamos fazer algumas ações voltadas para populações específicas, para populações mais vulneráveis, elas precisam ser convidadas a participar.. Parceria com a sociedade civil, com a academia, estar embasado cientificamente e ter recursos.

Há um aumento de casos de sífilis congênita. Apesar de haver tecnologia, a transmissão vertical de HIV ainda está presente. Por que é tão difícil eliminar esses problemas?

É preciso fazer um esforço. E ele será feito, não só para sífilis congênita ou transmissão vertical de HIV, mas também para transmissão vertical de hepatite e doenças de Chagas. Vamos trabalhar de forma a eliminar esses problemas.

Com relação à tuberculose, a meta será eliminar a tuberculose como problema de saúde pública no Brasil. A gente consegue. Se não for em quatro anos, será em 8. Para isso é preciso diagnóstico. Fazer teste em todos. Criança está com diarreia? Teste. Está com gripe? Teste.

Porque é preciso diagnosticar a população, ofertar tratamento. Somente assim teremos menos casos. Com 15 dias de tratamento, a pessoa não transmite mais tuberculose. Com Covid-19, houve um avanço nos testes. Há perspectivas de fazer testes com swabb oral. Ainda não está recomendado. Mas quando estiver, o Brasil será candidato. Pode trazer, que topamos.

Fonte: JOTA Info
https://www.jota.info/tributos-e-empresas/saude/departamento-de-hiv-aids-busca-emprestimos-internacionais-14032023

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