Alvo preferencial de reclamações no próprio partido, o PT, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem buscado interlocução direta com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). É um caminho para tentar se fortalecer no jogo político no Congresso e fazer avançar sua agenda, como o marco fiscal, que será relatado pelo partido do presidente da Câmara.
A aproximação do titular da Fazenda, no momento em que o Planalto ainda trabalha para estabelecer uma base aliada no Parlamento, tenta também dissociar o rumo de votações da agenda econômica de eventuais entraves que o governo possa enfrentar na discussão de outros temas.
Haddad demonstra senso de oportunidade para tentar tirar vantagem política na relação entre os dois Poderes. De um lado, o perfil centro-direita predominante entre deputados demandaria esforço do governo petista para calibrar mais ao centro discussões econômicas para obter maioria.
Isso dialoga com os esforços que o ministro tem feito para atuar como uma espécie de “moderador” entre propostas econômicas mais à esquerda dentro do governo. Além disso, as matérias mais importantes para a Fazenda só vão andar se tiverem a benção do presidente da Câmara, goste ou não o governo.
Já do ângulo de Lira, a aliança com o ministro da Fazenda é uma chance de reforçar o recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que as condições de governabilidade estão ainda mais concentradas nas suas mãos, a despeito da aposta inicial do governo de que o Senado pudesse ser o fiador da agenda do governo.
Conhecido como cumpridor de acordos, o presidente da Câmara contabiliza raras derrotas em plenário desde que assumiu a Casa, em 2021, mas costuma cobrar uma fatura alta relacionada principalmente ao controle do orçamento federal.
É nesse sentido que trabalhar pela aprovação das medidas econômicas no curto prazo pode facilitar a obtenção de uma meta do expoente do centrão: a liberação do pagamento de restos a pagar do ano passado carimbados como emendas do chamado orçamento secreto (RP9).
De acordo com dados do Tesouro Nacional, há um volume de R$ 13,4 bilhões em restos a pagar não processados (que não cumpriram nem a segunda etapa da execução orçamentária, a liquidação). Um decreto do início do ano bloqueou boa parte dessas emendas, com valores acima de R$ 1 milhão, a liberação depende de pedido do ministério setorial.
Na prática, a Junta Orçamentária – que envolve Fazenda, Planejamento, Casa Civil e Gestão – é quem pode liberar o bloqueio, mas a pasta de Haddad tem papel fundamental nesse processo, porque pode atrasar ou agilizar esse trâmite, entre outras coisas.
Lira não tem poupado elogios a Haddad em conversas com Lula e lideranças partidárias. Da mesma forma, integrantes da equipe econômica classificam como excelente a relação, adjetivo que traduz, na visão dessas fontes, o aparente empenho do cacique do centrão na aprovação de temas em comum, como a reforma tributária.
Enquanto isso, articuladores políticos do governo vêm aumentando o tom das críticas ao empenho de Haddad em estabelecer uma interlocução sem intermediários mais habituados à convivência com o presidente da Câmara.
A avaliação dessa ala é que, ao aumentar a influência de Lira, Haddad submete o governo como um todo às exigências cada vez mais elevadas do centrão em troca da aprovação de projetos. Além disso, a visão é de que há inexperiência do ministro da Fazenda na atuação legislativa, o que pode tornar ainda mais perigosa a “parceria” com o presidente da Câmara, habilidoso na articulação com os pares.
Bárbara Baião – Analista de Política em Brasília. Passou pelas redações da CBN e CNN Brasil, com foco na cobertura do Legislativo. Email: [email protected]
Fabio Graner – Analista de economia do JOTA em Brasília. Foi repórter e colunista de economia no Valor Econômico e também atuou no Estadão, DCI e Gazeta Mercantil, com mais de 20 anos de experiência, incluindo setor público. E-mail: [email protected]
Iago Bolivar – Jornalista e consultor digital
Fonte: JOTA Infohttps://www.jota.info/opiniao-e-analise/analise/haddad-reforca-parceria-com-lira-de-olho-na-agenda-economica-17032023
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