Imagens do escândalo das joias mudam patamar do desgaste político para Bolsonaro

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Ex-presidente Jair Bolsonaro | Crédito: Isac Nóbrega/PR
logo do jota pro poder, na cor azul royal

A divulgação da série de imagens que materializam as tresloucadas tentativas de auxiliares de Jair Bolsonaro (PL) de liberar joias apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos ajudou o assunto a “furar a bolha” dos detratores do ex-presidente.

O roteiro, com contornos cinematográficos e fartamente explorado na TV e nas redes, amplificou o desgaste de imagem do candidato derrotado à reeleição no momento em que ele vinha se movimentando para retomar ao Brasil na tentativa de liderar a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Esse diagnóstico, consensual entre caciques políticos de Brasília, é compartilhado por operadores do bolsonarismo, que passaram a advogar o adiamento da volta de Bolsonaro, decisão que o manteria distante da ação partidária, vista como decisiva para a retomada da influência do ex-presidente sobre o eleitorado de direita.

Aliados do ex-presidente consideram fundamental que ele conte com o aparato jurídico e logístico do PL para evitar a dispersão de sua base, já confrontada com um passivo de investigações e acusações que rondam a gestão anterior.

O grupo de Bolsonaro monitorava desde a semana passada o potencial de estrago do episódio. A princípio, havia convicção de que o efeito teria sido maior entre os eleitores que rejeitam o ex-presidente, ficando à margem da percepção dos neutros ou apoiadores.

Rastreamentos no ambiente digital chegaram às mãos dos filhos de Bolsonaro, em especial Flávio e Carlos, esse último responsável pelas redes do pai.

A partir desses levantamentos, a estratégia de defesa política foi construída e tinha como pilares três argumentos básicos: a garantia de que o processo de internalização dos presentes seguiu os trâmites legais, a citação permanente de assessores (como o ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-ministro Bento Albuquerque) como responsáveis por atos eventualmente fora do script da alfândega e, por último, as comparações com o acervo de objetos que Lula recebera de autoridades durante sua gestão, dando a entender que práticas ora condenadas pelo governo do PT foram recorrentes no passado.

A despeito da fragilidade da argumentação, o núcleo-duro bolsonarista vinha confiando na reação e chegou a comemorar a estabilização do quadro no início da semana.

O cenário, contudo, mudou radicalmente quando vieram à tona as imagens de diálogos no mínimo controversos de emissários do ex-presidente com agentes do Fisco.

Para aliados de Bolsonaro, as joias e seu valor astronômico, estimado em R$ 16 milhões, não convergem com o personagem de “homem do povo”, supostamente desprendido de bens materiais, que Bolsonaro sempre cultivou desde a campanha de 2018.

“É um caso clássico na política. Se tem imagem, fica mais difícil a explicação. A literatura sobre o assunto é farta. A crise mudou de patamar”, afirma um experiente interlocutor de Bolsonaro no Congresso.

Os cálculos de bolsonaristas mostram que o acúmulo de suspeitas sobre o ex-presidente cria mais obstáculos para a defesa dos direitos políticos nos tribunais, batalha que será travada nos próximos meses. E, de quebra, facilita a consolidação de líderes do campo conservador que conseguem manter a presença no noticiário com agendas positivas – caso específico do governador paulista Tarcísio de Freitas, cuja taxa de exposição ganhou proporções nacionais com a intervenção pessoal na tragédia das chuvas no litoral de São Paulo.

Fator Michelle

Como elemento adicional de apreensão, bolsonaristas lamentam que o caso das joias tenha respingado na figura de Michelle Bolsonaro, a quem supostamente seria endereçado o colar milionário doado pelos sauditas.

A ex-primeira-dama era a aposta imediata do grupo de Bolsonaro para aquecer a militância e preparar terreno para seu retorno.

O PL, partido do ex-presidente, havia programado uma robusta campanha de marketing para fortalecer Michelle no Dia da Mulher, incluindo gravação de mensagem em vídeo e previsão de inserções na propaganda oficial da sigla.

O plano foi mantido, mas o material divulgado pela legenda, ao omitir qualquer menção ao caso das joias, acabou virando motivo de questionamento no ambiente das redes, transformando em pauta negativa o que seria um impulso na sua projeção eleitoral.

Caberá a Michelle dar mais musculatura ao discurso de defesa a fim de iniciar uma prevista maratona de viagens a capitais com o objetivo de divulgar a seção feminina do PL e atrair novos filiados, em especial no público evangélico.

Fonte: JOTA Info
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/analise/imagens-do-escandalo-das-joias-mudam-patamar-do-desgaste-politico-para-bolsonaro-10032023

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